quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

cicatriz.


Preto no branco e aqui estou eu de novo. Ah! Se você soubesse como rouba as minhas cores com esse seu sorriso. Fico boba, perco as estribeiras. Atrapalho-me e teimo em lembrar aquelas tardes na casa da colina. Tantos os momentos que jurei amor eterno olhando nos teus olhos. Tuas palavras não eram essas de hoje. Não pareciam tão culpadas ou inférteis. Depois de anos daquele encontro, te vejo novamente. Porque sumiu? Levou junto minhas cores, me deixaste no preto e branco. Eu te esperei. Como o combinado, fui sua desde daquele natal. E hoje, depois de tantas primaveras, conheço a tua filha, que infelizmente, não foi do meu ventre que saiu. Não te conheço mais. Esses olhos escuros de vergonha, não se encontram mais com os meus claros de esperança. Meu erro foi acreditar. Crer em você, em mim, em nós. Pouco me importava fugir pra te ver. Hoje o incomodo é te ver todos os dias ao lado dela. Você mediu seu medo e não pensou no estrago. Eles tem razão? É errado crer no amor? No teu talvez seja. Mas é você, esse canalha assumido que ainda me encanta. Muitos falam, outros até brigam comigo. Vinte e cinco anos te esperando, para no final das contas, fazer a festa de debutante da sua filha. Desde o momento que entraste por essa sala, acompanhado da coitada, reconheci esse teu rosto. Lembrei da cicatriz que te deixei no canto direito da face. Infância boa, inocente e apaixonante. Levantei meu véu pra ti e você prometeu me levar ao altar. Hoje, preparo o vestido da tua filha. E ainda ouço desabafos da tua mulher. E você? Está aí, sentado olhando revistas. Sei que me reconheceu. Sei também que estás fingindo que não, porque queres te mostrar forte. Nunca fostes! É melhor você sumir de uma vez e devolver as minhas cores. Preto no branco, eu não agüento mais. Vá e não olhe pra mim, não fale comigo, continue fingindo. Mas corra logo antes que eu vá atrás pra deixar outra cicatriz. Desta vez, na tua alma.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

amante entorpecido ou amado costumeiro?


Se foi o ultimo dia? Ela não saberia dizer. Ocupou-se tanto com as pequenas falhas que não viu o dia acabar. Ele estava ali, ao seu lado. Implorando com os olhos animação, ardor, vivacidade. Ele só queria sentir o calor das mãos delas, os seus beijos e a suavidade das suas palavras. Ela? Sabia que ele estaria ali amanhã, preocupou-se então em passar aqueles minutos quieta, sem movimento. Ele queria calor e ela não trouxe o mormaço. Para que isso tudo agora, se amanhã ele estará aqui de novo? Dizendo que a ama, dizendo que ela é tudo e um pouco mais. Coitada, pouco sabe que ele vive tropeçando em seus pensamentos, questionando um sentimento inquestionável. Apalpando sua imaginação de forma com que pudesse sonhar com um dia de recíproco carinho. Mas ele a ama e tenta entendê-la. Sente-se culpado pelo sentimento à flor da pele. Diz que prefere ser um amante entorpecido a ser um amado costumeiro, boiando em tanto amor alheio. É mais fácil receber do que doar. Mas ele não pensa assim. Doa tanto amor, que não sobra para si. E ela? Recebe tanto amor, que desperdiça. Para que doar se o que recebe é tão inúmero que além do coração entope o ego?
Se foi o ultimo dia? Ela não saberia dizer. Mergulhada em tanto amor, o passar dos dias não teria tanta importância. Se foi o ultimo dia? Ele sabe dizer. E disse, e o fez como um legítimo amante. O último dia para ele, a última chance para ela.

Se foi o ultimo dia? Quem poderia dizer?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

Seu carro, sua bicicleta, seu par de tênis , sua meia fedida, seu cartão do passe?

Seu lençol, seu quarto, sua bagunça, sua sujeira, seu desarrumado?

Suas lagrimas, seu sorriso, seu grito, seu cheiro?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

Seu cocô, seu cérebro enferrujado, a casca do seu machucado, a ferida do mosquito?

Seu vômito colorido, seu olhar reprimido, sua voz pacífica, seu canto solitário?

O livro não terminado, as anotações imundas, a letra caída, o escrito guardado?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

O ódio, o amor, a dor que você sente?

A agonia, o desprezo, a sinceridade com que você mente?

A alegria, o abraço, a corrida, o suspiro, a fadiga?

De uma vez por todas, o que faz você pensar que é uma pessoa de verdade?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

.


Eu não sei mais escrever.