quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira.



o que pode ser dito
será agora silenciado:
onde há luz, fecha-se a cortina,
onde há dor, cobre-se a retina.

enquanto a poesia tropeçar em nós bem feitos
caberá ao poeta rabiscar fora da linha,
atirar de forma tímida,
rasgando a própria língua.

dedicação exclusiva?

a poesia termina com a formação de um compromisso:
enquanto houver palavra,
haverá desacordo.
enquanto houver desejo,
tropeçaremos pouco a pouco.
enquanto houver razão,
nadaremos no sufoco.

do irremediável ao suspiro: nem tudo que arrepia é rabiscável.

sexta-feira, 22 de março de 2013

F



falando fácil
fico forçando fatos fictícios,
ferozes fixações
fatais,
felizes.

fuga firme
feito fada
fascinada,
formulando faces fugazes,
futuras fantasias.

frequentemente faço força
firmando fogo, formando falácias:
fica fácil falar fingindo,
forjando felicidades.

feito - fórmula fidedignamente falada:
fisicamente, falta flutuar.

domingo, 17 de março de 2013

C.




caem
corpos contraídos
construídos com cautela
com cuidado
calmamente
contradizendo-se

cair-se
criar-se
crescer-se
calar-se

compactuando com o caos correspondente
comparado a criação constante
consisto-me,
carinhosamente confinada,
calada,
com copos calorosos
carregando comigo
-caoticamente-
cada centímetro corpóreo

como começa?
conceitos corajosos caem como chaves
como cem cortes certeiros
cozidos com a carne crua
cruelmente conhecida

sábado, 16 de março de 2013

o sexto dia.



ventania. chá verde e gotículas de outono denunciando novos suspiros. fora tomada pela sensação insustentável de descrever em palavras aquilo que não se vê.
há tempos o estômago não fervia tanto, sinalizando o momento ímpar de tudo o que agora é belo. sempre tivera dificuldades de se ver em terceira pessoa e, talvez por isso, suas cartas eram direcionadas a si, assinadas pela audácia do veredito.

há poesia em tudo o que se move. a cada belo horizonte trêmulo, em toda possibilidade de sonho encontram-se goles de crença naquilo que por ora fantasia-se com convicção: somos parte de um desejo irremediável. somos fruto de uma promessa falha, de um atropelamento na pele. da euforia de ser ao desejo de estar existe um limiar ácido e irônico- fronteira irreverente entre nós. o desaforo dá as caras: da tua boca pouco sei... da minha, já não lembro mais.