domingo, 28 de setembro de 2008

portrait

A lua sobe, se esconde, o sol aparece e as coisas não se transformam. Por volta das cinco, cinco e meia da tarde senta, olha o cardápio e o pedido não muda: “um café com leite, com mais leite, por favor,”. Espera ali sentada. Não sabe se lê, não sabe se liga para alguém a fazer companhia. Desiste de ligar, pois está cansada. Só ela liga, só ela busca, só ela cria. O café chega. A vontade é tanta que queima os lábios. Já não os sente mesmo, não faria diferença tostar mais um pouco. Ela pensa. Só pensa. Mil e uma coisas, informações que caminham numa velocidade inalcançável para sua cabeça. As palavras vêem, voltam, umas formam frases, outras não completam a idéia. Frases, idéias, momentos desejados, momentos passados, momentos presentes...De tudo aparece ali e não há nada que ela possa fazer. Toma o café pouco a pouco na esperança de alguém entrar ali, sorrir e juntar-se àquele momento. Ninguém vem. Ela nem sabe por quem esperar. Esperou tanto, decepcionou-se tanto que já não sabe distinguir presente de passado, realidade de sonho, utopia de desejo. O café está pela metade e moça reza para que uma ventania apareça para conduzi-la a algum outro lugar. Pensa em levantar-se, entretanto a idéia logo passa. Levantar-se para quê? Para quem? Para onde? Chega de perguntas! – Mais um café com leite, com mais leite, por favor.

Nenhum comentário: