terça-feira, 30 de outubro de 2007

César

Metade de mim sustentava-se no balcão. A outra metade eu já nem sentia. Mas que diabos de vida seria essa? Perdi as contas de quantas noites desgracei assim. Os copos foram tantos, que aos poucos formavam uma colina perante a mim. Quase maiores que minha melancolia. Cobriam essa face envergonhada, surrada e inconformada. Te busquei em todo e qualquer engradado alcoólico dessa cidade. Tentei te avistar em cada fundo de garrafa, em cada cigarro aceso, em cada esquina molhada. Aos poucos, cansei de fugir. Cômodo demais para um homem de 38 anos, divorciado e mal sucedido, buscar as respostas em um boteco encardido. Por que não aceitar a perda? Por que não tentar te substituir? Por que ainda questionar, se das respostas não quero estar ciente? Fostes o único a quem busquei socorro em todos os momentos. Aquele que parecia me ouvir. Ainda que calado, fingia me entender. E fingiu muito bem, em todos esses anos. Tão bem que te confundi tantas vezes e cheguei a dar-te o nome do meu irmão. Como esqueceria eu, do meu melhor amigo César? Como encarar agora, a dura jornada que agüentaria só? De que forma poderia explicar a todos que tanto pranto, tanta agonia e tanto sofrimento, era efeito da sua morte? Como explicar ainda, que para mim, eras mais que um simples animal de estimação? Meu companheiro, meu amigo, meu eterno confidente. Meu modesto cachorro.

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