quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

madeixas.

“Antes de mais nada, peço que não se assuste ao ler esse bilhete. Saiba que são semanas ensaiando como lhe entregar e não vi melhor forma do que esta. Saio subitamente para que não você possa nem ao menos ver meus passos de despedida. Foram dias, semanas, meses te observando. Ainda não sei como não desconfiou de nada, pois vir aqui toda manhã e fazer o mesmo pedido contigo, sempre tentando sorrir de uma maneira diferente me parece clichê. O café mais forte e os bolinhos com doce de leite foram meras desculpas durante esses dois meses que estive aqui. Não pude ao menos saber seu nome, não pude saber mais do que seu horário de trabalho. Mas você também não colabora!Nunca perguntou o meu nome ou o motivo de nunca aceitar ser servido por outra que não fosse você, minha cara. Serei breve nesse guardanapo. Saiba que não voltarei mais. Não por medo da réplica – ou da falta da mesma- , mas por ter sido promovido para o outro canto do país. É meu momento de partir. Mais um dia nessa agonia eu não sobreviveria. Você é linda, menina. Não sei ao certo o que me encantou mais, mas digo que seus olhos, seus movimentos... Lembro-me do dia em que deixou o pacote de guardanapo cair e se abaixou na esperança de juntá-los. Um a um, todos eles faziam você ter o mesmo movimento. Seu cabelo caía pelo rosto e delicadamente você escondia suas madeixas. Ah! Suas madeixas! Se soubesse o quanto eu desejei ter minhas mãos nelas. Acariciar seu cabelo, sua face. Cerca de seis passos nos separavam e eu nunca pude abraçá-la. Durante todo esse tempo eu tentei ser menos introspectivo, bolei planos e maneira de me aproximar mas nada deu certo. Eu sou assim mesmo. A cara amassada não esconde as noites mal dormidas e os planos nunca colocados em prática. Anos de solidão, nunca soube como dizer as pessoas o que eu sentia. Sempre tive medo dos sentimentos e minhas tentativas sempre acabaram em fuga. Mas digo à você, menina tão bonita, que em ti eu vi a vida, que em ti eu depositei minhas esperanças. E mesmo que nunca tenha falado, eu acho que te amei. Por um dia, por uma manhã mas eu te amei. Talvez tenha sido os guardanapos. As madeixas. O olhar recaído. Talvez os bolinhos, o doce de leite. Ainda não sei como conseguirei passar minhas manhãs sem vir aqui, mas saiba que você já está comigo. Você não sabe meu nome, eu não sei o seu. Não sei nada de ti, nem ao menos se é comprometida ou não. Mas ouça, desse rapaz rabugento, que nessa cidade, não há moça tão linda quanto você. E por favor, não esconda mais suas madeixas. Deixe que junto delas, caia também o seu receio, o seu medo. Deixe brilhar nos seus olhos essa beleza ímpar. E por favor, não me traia levando bolinhos de doce de leite a outro.

Um grande beijo, do seu menino tímido.”

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

embaraço.

Após muitas tentativas frustradas, notei a impotência do ser humano em se tratando de definições. Há muito busco em palavras descrever os mais diversos sentimentos, as mais ousadas sensações. Talvez a vontade de entender tais aspirações, me faz querer transcrever para o papel tudo aquilo que me empolga, o que me dói,o que me excita ou o que me anula.
Sentir-me viva é o que busco ao deslizar por dentre essas linhas. Nem sempre consigo, porém são nessas frustrações que encontro respostas. Respostas para perguntas que já não faço. Soluções para os problemas dos quais eu fujo.
Se a vida é feita de cuidados, não hesito ao me atirar nesse mar de tentativas. ”Definir-se é limitar-se”, logo, desisto de fugir diante as rédeas da definição do sentir e apenas sou-me. Sem mais, nem menos. Tentando somente encontrar-me nesse infinito embaraço.
Se me ouço, hesito. Se hesito, não me reconheço. Vivo de contratempos, de entrelinhas, de impulsões. Alimento-me com palavras, com o frio e com anseios. Sinto nostalgia de uma ausência desconhecida – que sempre se faz presente- e também da presença daquilo que jamais vivi. Fruto do que me espera. Do que um dia eu queria ter sido, mas não fui. Fruto um futuro que foge às regras e não espera o amanhã.

domingo, 30 de novembro de 2008

delicinha ²


Saio um pouco das minhas palavras para entrar nas de Drummond.
Este poema, segundo ele, foi feito "com o pensamento em Ana Cristina César".
E confesso estar apaixonada por essa poeta. Graças à minha querida amiga lola, pude conhecê-la e agora fico louca atrás de seus livros mas não encontro nenhum em livraria ou sebo algum. As edições são antigas e nunca tem no estoque.
Delicie-se com essa coisa linda:


"Por muito tempo achei que a ausência é falta
e lastimava, ignorante, a falta.
hoje não a lastimo.
não há falta na ausência.
ausência é um estar em mim.
e sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
que rio e danço e invento exclamações alegres.
porque a ausência, esta ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim".


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

permissão.

Com toda licença, faço-te alguns pedidos. Permita-me entrar pelos teus portos e me ancorar dentro de ti. E assim, te afogaria com meus desejos mais profanos e num dilúvio imensurável te encontrarias já em mim. Deixe-me nadar pelo seu corpo e me entregar aos teus encantos de uma forma que, por fim desse meu canto, não existas mais longe de mim. E sinta, com um fôlego inquieto, meu calor chegando ao teu. E veja, que desse encontro desastroso, eis que surge um novo “eu”. Peço apensas que sintas. Não sei ao certo ainda o quê, porém sinta! Não te culpe por sentir, não te omita ao ousar. Não te prendas à correnteza alguma, não duvide ao te ancorar.
Não te percas fugindo assim! Não há desconforto, pois teus mares te levam à mim.

sábado, 22 de novembro de 2008

about me


E se um dia perguntassem sobre mim? Eu daria um sorriso, abaixaria os olhos e sem muito pudor diria:
Pôr do sol, vento na cara, presunto e queijo, orégano, lua cheia, esmalte vermelho, música extremamente alta, fotos, pão com requeijão, desejo à flor da pele, escritos sem nexo, minha vida num papel, capuccino sem chantilly, ímpeto, filmes, livros, cores, vermelho, psicologia, anseios, parceria, livrarias e sebos, suco de uva, gilmore girls, preto e branco, cerveja, piadas sem graça, amigos, música novamente, ligações, sonhos, imagens, caixinha de surpresas, DVD´s, lealdade e listas – muitas listas-.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

anseios.

O vento trouxe a lembrança daquele cheiro que ela jamais havia sentido. O perfume da pessoa que por dias habitava sua mente. Buscou-a nos seus goles de café, nas suas poesias diárias, nos seus pensamentos sem censura. Aquele arrepio já domava seu ser e, como uma fera que ataca a sua presa, subia-lhe por entre as pernas provocando-lhe um calor inigualável. Seu corpo - que durante tanto se adormeceu diante ao mundo- parecia voltar a pulsar, a sentir, a possuir vida. Que sensação! As cores novamente brilhavam e nem os dias feios eram motivos de descaso. A inspiração havia voltado. E com ela, a saudade de um futuro que parece jamais ter o desejo de tornar-se passado, de um futuro que talvez nem chegue.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

doce rubro.



As águas de março ainda caiam sobre a calçada adormecida. Miranda observa da janela semi serrada, o movimento dos pingos de água na rua. É uma quinta-feira cinzenta, escura, crua. Uma das mãos vai em direção a cortina para fechá-la, a outra segura o primeiro cigarro do dia.
Miranda contorna o sofá surrado de tantas noites dissimuladas e vai à busca de café. Entre um gole e uma tragada surgem as primeiras idéias para essa noite que antecede a sexta-feira.
Passa o dia a pensar, a fumar, a sonhar. Sonha com êxtase, com dor e com luxúria. Ela quer tudo em vermelho. Os olhos, o tapete, as lágrimas. Ah, as lágrimas! Essas sempre percorrem pelo seu rosto um caminho já trilhado e sabido. Gotículas de pranto, prazer. Um misto de gozo e culpa. Hoje, ela terá mais um daqueles momentos de glória.
A noite despenca e Miranda se depara com o espelho. A idade já não se esconde, porém a fome de libido, de vingança e prazer é bastante juvenil. Veste-se de vermelho. O mesmo que dá cor à paixão e ao sangue. Acende um cigarro e espera o relógio gritar oito horas.
O rapaz chega. Estatura mediana. Não serve para feio, entretanto não é dos mais belos. Ele surpreende-se com a decoração. Velas, fumaça, vermelho. A moça o cumprimenta com ardor e já o despe, com bem fez com todos. Atracados, os dois se entrelaçam até a cama – que já não se assusta com a cena não tão ímpar-.
Miranda o surpreende pedindo para que ele vire de costas e não se mova. Assustado, não hesita em obedecer. Ela então se levanta e caminha, já desnuda, em direção a vitrola. Coloca um vinil que em poucos segundos já arranha as primeiras notas de um tango. Um delicioso e sensual tango que penetra em Miranda e a faz gemer por dentro. O rapaz não ousa virar-se ao ouvir a melodia. Domada por um desejo inconseqüente, ela abre a gaveta do armário empoeirado. Ao som da musica caliente lambe, beija, admira a faca até então adormecida. Dança com o instrumento e caminha até a cama. Miranda dança, se esfrega, enlouquece o rapaz. Ainda que de olhos cerrados, ele sente o fervor da mulher que percorre seu corpo com a boca. Beija-lhe toda a espinha e enquanto ele geme, Miranda dá o golpe final.

A faca entra, rasga-lhe as entranhas e aí começa o gozo. Ela entra em transe ao ver o vermelho jorrando. O tango percorre por suas veias e o sangue do rapaz dava o colorido que faltava àquele quarto. Ela desfruta, em meio ao mar de sangue, daquela dança que já havia virado semanal.
Vermelho, tango, cigarros. Mais uma noite bem sucedida. Mais um prazer, menos um temor. O vermelho mistura-se com o cheiro picante do lençol. Miranda então sorri. A sexta-feira já nasce colorida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

mad about you / give me a reason to be a woman

:)


http://www.youtube.com/watch?v=duVQrYfvgX8&feature=related


Indescritível!
Eu já amava "glory box" do portishead...Recentemente viciei em hooverphonic - principalmente em "mad about you" e em uma dessas viagens pelo youtube não é que eu encontro hooverphonic cantando as duas músicas em uma só?!

maravilha..! Recomendo...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

regard.

"Organize bem o seu tempo, você está passando por uma fase de ajuste, enxugue o supérfulo e afaste os pensamentos repetitivos. Para isso, use a sua intuição, ela nunca falha.
O seu equilíbrio vem do acreditar na sua intuição e permitir que a sua voz interior lhe dê a resposta de que precisa. Tem uma força maior que nos mantém vivos e fortes. Podemos tudo quando acreditamos..."

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

delicinha.


(...) Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável.
(...)
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui.

Clarice Lispector.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Desterro na puberdade.



Florianópolis decidiu se revoltar. Uma insuportável puberdade assombra essa cidade.
Revoltada, faz chover por mais de não sei quantos dias. Mais inconstante do que meu humor, esse tempo até que está me alegrando. Ora chove, ora brilha o sol.

Assim como a vida, cheia de fases e cores.
Numas coloridas, noutras cinzas.


Se eu faço chover é pra depois me ver no arco-íris, meu bem.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ou pensa, ou vive.


Morri! Morri e não me avisaram! Morri e não me enterraram! Que diabos aconteceu comigo? Esse lugar escuro, essa parede sem muro. Eu morri!

Eu não quero ouvir, pois eles ainda falam comigo a mesma porcaria de sempre. Mas por que razão insistem em falar se já não respiro? E como penso nessas frases se já não existo?


Existir é pensar ou pensar é existir?

Nem um, nem outro.


Se você morre, você não pensa. Se você pensa, não vive.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008


(...) "Ser ou não ser" não seria, portanto, a questão central. O importante seria perguntar, também, o que somos. Será que somos pessoas de verdade, feitas de carne e osso? Será que o nosso mundo consiste em coisas reais, ou será que tudo isso que nos cerca não passa de consciência? (...)




O mundo de Sofia.

domingo, 28 de setembro de 2008

portrait

A lua sobe, se esconde, o sol aparece e as coisas não se transformam. Por volta das cinco, cinco e meia da tarde senta, olha o cardápio e o pedido não muda: “um café com leite, com mais leite, por favor,”. Espera ali sentada. Não sabe se lê, não sabe se liga para alguém a fazer companhia. Desiste de ligar, pois está cansada. Só ela liga, só ela busca, só ela cria. O café chega. A vontade é tanta que queima os lábios. Já não os sente mesmo, não faria diferença tostar mais um pouco. Ela pensa. Só pensa. Mil e uma coisas, informações que caminham numa velocidade inalcançável para sua cabeça. As palavras vêem, voltam, umas formam frases, outras não completam a idéia. Frases, idéias, momentos desejados, momentos passados, momentos presentes...De tudo aparece ali e não há nada que ela possa fazer. Toma o café pouco a pouco na esperança de alguém entrar ali, sorrir e juntar-se àquele momento. Ninguém vem. Ela nem sabe por quem esperar. Esperou tanto, decepcionou-se tanto que já não sabe distinguir presente de passado, realidade de sonho, utopia de desejo. O café está pela metade e moça reza para que uma ventania apareça para conduzi-la a algum outro lugar. Pensa em levantar-se, entretanto a idéia logo passa. Levantar-se para quê? Para quem? Para onde? Chega de perguntas! – Mais um café com leite, com mais leite, por favor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tarja preta


Oco. Vazio. Insignificante. Como descrever algo se já não sinto mais nada? Decifrar um estado de vácuo existencial foi algo que sempre tentei fazer. Entrava e saía de uma depressão como quem cai num buraco e já desconhece motivos para levantar-se. Por um momento aceitei as opiniões alheias e fui ao médico. O desgraçado do psiquiatra cismou em me entupir com anti depressivos. Saí do consultório num ímpeto incontestável buscando remédio para a ferida. Minha salvação foi que a farmácia mais próxima estava fechada. Em frente, havia uma livraria. Confesso que até hoje não sei o que me fez entrar, e agradeço aos céus por me mostrar o oásis que me salvou.
A perda do meu pai, a ausência de um amor...tudo isso contribuiu para meu estado depressivo. Achei que nunca mais voltaria a sorrir. Até me entregar às palavras. Não fossem as palavras de Marcelo Rubens Paiva, nunca poderia ter sentido o êxtase que tive ao ler Feliz ano velho. É indiscutível como as letras, as frases uma a uma penetravam em mim e como um orgasmo arrebatador, me faziam querer sempre mais. O mundo de Sofia, O vendedor de sonhos, O caçador de pipas, até mesmo as obras da Rainha dos crimes me trouxeram um doce desejo à vida. A morte no Nilo,Cai o pano... Livros que me fizeram ter o dom da percepção ensinado por Agatha Chrisite.
Aos poucos, criei coragem e comecei a produzir uns rabiscos. Se na vida real eu tinha medo de pontos finais, aprendi que uma vírgula pode fazer milagres. A vírgula, aquela pausa necessária para buscar fôlego para ir à frente, me ensinou a respirar. Aprendi que às vezes o bom mesmo é fazer uso das reticências, aquele fim que não acaba, aquela omissão do que poderia ou deveria ser dito. Ah! As palavras! Entram e saem de mim com uma audácia juvenil. Alojam-se em meu peito e mudam meu dia, meu ser. Fiz delas minha própria terapia.
A vida me ensinou que escrever é sempre uma saída. Para uns, é como dirigir na contra mão, com obstáculos a todo o momento e buracos na pista. Para mim, é ligar o piloto automático e deixar-me conduzir somente pelo encanto e o verdadeiro sentido cognitivo das palavras. No lugar de Fluoxetina, Prozaac ou qualquer outra química causadora de uma falsa alegria, um papel, caneta e algumas palavras. As minhas palavras. Meu remédio tarja preta. Minha dose diária cuja única precaução escrita no meu imaginário é: “Cuidado. Esse medicamento é contra indicado para aqueles cujo verdadeiro sentido da vida ainda não fora descoberto”.

sábado, 6 de setembro de 2008

sem título por enquanto.


Cena um.



Bar vazio. Cinco pessoas apenas sentadas. Uma televisão ligada. A moça do balcão discute com o rapaz que lava os copos. Na mesa enfrente à sinuca, um homem fumando. Parece compulsivo, apaga um cigarro, acende outro. Não deixa um intervalo se quer para seu pulmão reclamar. Na mesa redonda para quatro pessoas próxima ao balcão, um casal. Pouca conversa, alguns olhares. Não há diálogo. Ela contorna o copo de cerveja com os dedos, tentando fazer algum barulho, como se fosse uma taça de vinho. Ele prestando atenção no celular que está ali, mas não toca em momento algum. No balcão, duas mulheres. Pouca idade, no máximo uns vinte e cinco anos na cara e mais uns trinta entre as pernas. Elas também não conversam. Não houve um cliente se quer naquela noite, só restou a elas o balcão. Bebem do copo uma da outra. A cerveja vai acabar, pois a conta já é grande. Decidem ir embora e voltar à casa vermelha

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

alegria


Deixa o poeta cantar e cair, borbulhar-se de amor.
Sinta o seu fogo, seu cheiro, a dádiva imensa de ser vencedor.
Ouça a batida da ponta da faca e a ferida que insiste em coçar.
Fala pra ele que um sonho é pouco, devemos é nos atirar.
Tira a cabeça do saco e atola o teu pé, deixa a lama molhar.
Limpa com mel a ferida, adoça tua vida que o poeta já vem.
Veste tua cara com véu de alegria e pra ele não faça desdém.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

ardor

Dá-me outro ardor
Sem paz, sem ar, sem cafeína
Dá-me essa flor
Tão pura, eterna e tão menina
Dá-me esse dom
Cantar, brilhar, ser teu tambor
Pra que me toques assim,
Sem pressa, sem medo e sem ver fim
Pra que me enforques de amor
Sem pressa, sem volta, feliz assim.

Dá-me teu ardor...

domingo, 30 de março de 2008


É gelado. O vento que bate na flor e carrega a saudade é gelado. Faz queimar meu nariz e ainda me deixa enjoada. Sufoca, arde não me deixa engolir a saliva. Mas pra onde esse vento está soprando eu não sei. Volta logo, bate em mim feito brisa de verão, mas não seja uma tempestade em meu peito. Seja brisa passageira, pra secar as minhas lágrimas e ficar ao meu redor acudindo esse meu medo.

sábado, 8 de março de 2008

escada sem corrimão

É como o trecho daquela música “então por que você não me mata para que eu morra feliz?”. É você, meu cheiro. O motivo da minha alegria, da minha dor, do meu tormento. Palavra forte, viva em meu pensamento. Você é mais do que amor, é mais do que paixão. Tento descrever, mas não consigo. Não consigo não.
Vem, me dê suas mãos. Tanto o fez que hoje ando só em meio a multidão. Senão você, minha vida é escada sem corrimão.
E são teus beijos que me endoidecem, por você que minhas lágrimas padecem.
Corre agora e vem me ver. Abraça-me prontamente pra em ti eu me esconder. Cala-me com esse teu beijo que tantos males me fez esquecer. Larga tua vida e venha ao meu encontro. E não se demora, não perca seu ponto. Mas venha com gosto que lhe mostro o teu mundo. Faça-o por gosto, e a mim, conheça a fundo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

cicatriz.


Preto no branco e aqui estou eu de novo. Ah! Se você soubesse como rouba as minhas cores com esse seu sorriso. Fico boba, perco as estribeiras. Atrapalho-me e teimo em lembrar aquelas tardes na casa da colina. Tantos os momentos que jurei amor eterno olhando nos teus olhos. Tuas palavras não eram essas de hoje. Não pareciam tão culpadas ou inférteis. Depois de anos daquele encontro, te vejo novamente. Porque sumiu? Levou junto minhas cores, me deixaste no preto e branco. Eu te esperei. Como o combinado, fui sua desde daquele natal. E hoje, depois de tantas primaveras, conheço a tua filha, que infelizmente, não foi do meu ventre que saiu. Não te conheço mais. Esses olhos escuros de vergonha, não se encontram mais com os meus claros de esperança. Meu erro foi acreditar. Crer em você, em mim, em nós. Pouco me importava fugir pra te ver. Hoje o incomodo é te ver todos os dias ao lado dela. Você mediu seu medo e não pensou no estrago. Eles tem razão? É errado crer no amor? No teu talvez seja. Mas é você, esse canalha assumido que ainda me encanta. Muitos falam, outros até brigam comigo. Vinte e cinco anos te esperando, para no final das contas, fazer a festa de debutante da sua filha. Desde o momento que entraste por essa sala, acompanhado da coitada, reconheci esse teu rosto. Lembrei da cicatriz que te deixei no canto direito da face. Infância boa, inocente e apaixonante. Levantei meu véu pra ti e você prometeu me levar ao altar. Hoje, preparo o vestido da tua filha. E ainda ouço desabafos da tua mulher. E você? Está aí, sentado olhando revistas. Sei que me reconheceu. Sei também que estás fingindo que não, porque queres te mostrar forte. Nunca fostes! É melhor você sumir de uma vez e devolver as minhas cores. Preto no branco, eu não agüento mais. Vá e não olhe pra mim, não fale comigo, continue fingindo. Mas corra logo antes que eu vá atrás pra deixar outra cicatriz. Desta vez, na tua alma.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

amante entorpecido ou amado costumeiro?


Se foi o ultimo dia? Ela não saberia dizer. Ocupou-se tanto com as pequenas falhas que não viu o dia acabar. Ele estava ali, ao seu lado. Implorando com os olhos animação, ardor, vivacidade. Ele só queria sentir o calor das mãos delas, os seus beijos e a suavidade das suas palavras. Ela? Sabia que ele estaria ali amanhã, preocupou-se então em passar aqueles minutos quieta, sem movimento. Ele queria calor e ela não trouxe o mormaço. Para que isso tudo agora, se amanhã ele estará aqui de novo? Dizendo que a ama, dizendo que ela é tudo e um pouco mais. Coitada, pouco sabe que ele vive tropeçando em seus pensamentos, questionando um sentimento inquestionável. Apalpando sua imaginação de forma com que pudesse sonhar com um dia de recíproco carinho. Mas ele a ama e tenta entendê-la. Sente-se culpado pelo sentimento à flor da pele. Diz que prefere ser um amante entorpecido a ser um amado costumeiro, boiando em tanto amor alheio. É mais fácil receber do que doar. Mas ele não pensa assim. Doa tanto amor, que não sobra para si. E ela? Recebe tanto amor, que desperdiça. Para que doar se o que recebe é tão inúmero que além do coração entope o ego?
Se foi o ultimo dia? Ela não saberia dizer. Mergulhada em tanto amor, o passar dos dias não teria tanta importância. Se foi o ultimo dia? Ele sabe dizer. E disse, e o fez como um legítimo amante. O último dia para ele, a última chance para ela.

Se foi o ultimo dia? Quem poderia dizer?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

Seu carro, sua bicicleta, seu par de tênis , sua meia fedida, seu cartão do passe?

Seu lençol, seu quarto, sua bagunça, sua sujeira, seu desarrumado?

Suas lagrimas, seu sorriso, seu grito, seu cheiro?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

Seu cocô, seu cérebro enferrujado, a casca do seu machucado, a ferida do mosquito?

Seu vômito colorido, seu olhar reprimido, sua voz pacífica, seu canto solitário?

O livro não terminado, as anotações imundas, a letra caída, o escrito guardado?

O que te faz ser uma pessoa de verdade?

O ódio, o amor, a dor que você sente?

A agonia, o desprezo, a sinceridade com que você mente?

A alegria, o abraço, a corrida, o suspiro, a fadiga?

De uma vez por todas, o que faz você pensar que é uma pessoa de verdade?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

.


Eu não sei mais escrever.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Tears dry on their own.


Por que a gente chora?
O corpo humano sabe diferenciar choro de alegria, choro de dor ou choro de saudade?
Por que a gente treme quando chora e se encolhe?
Por que a gente quer escuro e silêncio?
Ou então uma musica tão alta a ponto de ofuscar seus gritos?
Por que a gente não divide sentimentos?
Por que não pode se guardar choro sem doer o peito?
Pra que chorar de alegria?
Pra que chorar de raiva?
Por que não há um motivo só pra chorar?
Por que sempre quando a lágrima é de dor ela parece arranhar nosso rosto?
E por que quando é de alegria ele segue doce, pelas dobrinhas da covinha?
Por que o medo faz a gente chorar?
Por que a gente tem medo da gente?
Por a gente chora quando fala do irmão?
Por que a gente chora quando pensa nos pais?
Por que a gente chora quando escreve?

Por que a gente chora?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

reticências...


Cinza. Vazio, oco, insignificante. Engraçado tantos adjetivos para descrever um estado tão vago. Como falar de um estado de vácuo? Como falar do que não sinto? Como desejar sentir algo se no momento, mal respiro? Por que as perguntas? Para que os pontos de exclamação? Cansei de você, ponto maldito. Cansei das suas perguntas e das respostas que você busca. Cansei da sua cordialidade e da sua réplica. Eu cansei de você. E talvez fosse melhor ir à busca de um ponto de exclamação. Um grito súbito de admiração, alegria, dor, surpresa. Porém que surpresa eu poderia esperar? E que alegria seria capaz de anular a dor inexistente, o sentimento oculto? Exclamações não são mais válidas e nunca foram. Talvez por nunca tê-las acabei menosprezando-as. Quem sabe uma vírgula? Indicando a menor de todas as pausas ou um comentário malicioso. Uma pausa, um fôlego? Mas parar por que? E de onde vem o cansaço? Talvez eu possa usar da ironia, aproveitar das aspas. Por que não acho o que quero? Quem sabe a coragem de um ponto final? Um furo feito em mim com agulha enfiada de linha molhada. O fim de algo que não começou. A última pausa pra respirar. O momento de se jogar. Por que não o ponto final? E cadê a coragem? Talvez tenha ido embora... Ou melhor, talvez esteja nas reticências. Uma omissão daquilo que se devia ou podia dizer. Um silêncio involuntário. Reticências... Em busca da pagina virada, do próximo capitulo. Sem vírgulas, exclamação ou interrogação. Apenas aquele fim que não acaba...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

amorfo.

Não é tão ruim assim. É aquela velha sensação de estar omitindo algo pra si. Tu mais do que ninguém, sabes do que eu estou falando. Admira-me ver em teus olhos essas lágrimas. Não sei se acredito nelas ou dou risada vendo teu estado. Deplorável, amorfo, inexato. Repleto de ruínas interiores e olhares profanos. Por que te calas e deixas com que façam de ti um tolo, um desalmado? És mais do que falas, és mais do que temes. És mais até do que pensas. E, aliás, por que motivo não pensas mais? Por acaso te rendeste aos desejos alheios? Vejo que te entregaste à eles como um cão desamparado. Anda, reage! Onde está a tua tirania, o teu poder? Por que temes a teus pais mesmo sabendo que jamais será metade do que eles foram? É por isso que te queixas? É por isso que te escondes? Levanta-te, te ergue e te completa. Não olhe para trás, para o que eles falam. Eles não são nada e tu sabes do que falo, me ouves, mesmo quando não queres faço das tuas, minhas palavras. E assim grito em alto e bom som: Apareça desgraçado. Não és quem eu conheço, não foi em ti que depositei meus sonhos, meus desejos. Acorda e faça dos teus dias, os últimos. Acorda e viva a tua vida como se estivesse a um passo da morte. E quem sabe estás. Pois quem vive se escondendo, esconde que está morrendo.

we know.

- Você já sabia.
- Eu sei que eu já sabia, mas era mais fácil acreditar que podia dar certo.
- Mas você já sabia.
- Eu já disse que sim, mas um lado meu fazia com que fosse diferente.
- Mas você já sabia.
- Você só pode estar brincando. Eu já disse. Eu sabia que ia dar errado, e ainda assim, tentei.
-Logo, você já sabia.
- Eu sabia. Mas me fingi de cega e continuei, me iludi, enganei a todos e a mim mesma.
- Porque você já sabia...
- Mas que diabos! Sim, eu já sabia que ia dar errado, qual é o problema?
- Justamente esse. Você já sabia.
- Você está de sacanagem comigo? Qual o problema em já saber?
- Você já sabia que ia dar errado. E por isso deu. Porque ao invés de acreditar no que poderia vir, você já sabia que ia dar errado. E deu, pois você acreditou nisso.
- Mas..eu não sabia se ia dar certo ou não.
- Justo, e preferiu acreditar que ia dar errado.
- Mas como eu ia saber que sim?
- E como ia saber que não?
- Mas isso eu já sabia.
- É, eu sei.