domingo, 23 de outubro de 2011

anunciação

Hoje sou eu
Que te livro de mim
E já não há mais essa incongruência
- Serena desarmonia
Que descompassa em cada passo
E nos atinge
Feito pedra

Que cai, mas não rola
Que fala, mas despista
Que quer, mas não se arrisca

Hoje o dia será tombado
Patrimônio histórico de todas as quedas
De agora em diante será assim:
Morro abaixo
Para melhor poder voar.

Hoje o céu nos indica com antecedência:
Bebemos litros de amor e ainda permanecemos com a boca seca de saudade.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

suspiro



Um sopro de vida que mais parece um vendaval. Voam papéis, correm palavras, derrubam-se mesas, copos e cristais.
Nas pontas dos dedos escorrem restos de noites líquidas, quentes, dissimuladamente verdadeiras. Pingam-se versos em cinzeiros e a poesia assim é feita.

Meu melhor amigo um dia me disse “já reparou que as estrelas são as menores e as maiores coisas que conseguimos enxergar ao mesmo tempo”?
Pois é. Com os olhos úmidos eu não conseguia ver nada. Era tudo em dobro, a faca entrava sem pedir licença e assim cegava. A linha entre dor e prazer subia rasgando, queimando por dentro.

Agora eu entendo: quando o impulso salta aos olhos o tropeço vira suspiro

domingo, 9 de outubro de 2011

constatação.



Te vejo perambulando às avessas feito carne que sangra para melhor representar. Houve um tempo em que acreditei nessas confissões vagas, no ímpeto que me era escrever em lençóis, vomitar cartas a outro alguém ou simplesmente assoprar o estrago para que o fim fosse a explicação.
Hoje são os copos de gelo que me aquecem e que cantam aos meus ouvidos ventanias desconhecidos. Às vezes eu tenho vontade de rir quando não pode e me pergunto quão sádico (e entediante) pode ser aquilo que escolhemos como vital.
Tropeçar é bom porque nos tira do vício estático e previsível desse tal “viver”.
Questiono-me com a saliva ardendo: Afinal de contas... O que seríamos se não nos fossemos?

O outro. Aquilo tudo.
Vamos deixar essa história pra mais tarde...

elas.


Eu fico pensando
-agora.
Eu consigo me ver
Mas eu não tinha isso

Com as coisas que acontecem
“não tem como não”
Traduz?
Isso não é teoria em si.

Transposição:
Não é igual.

-Embora
- Mas,
- então,
Ela está falando...

Isso é importante entender
Ela é feita de um lugar específico.

É inevitável...

teia

Pra nós
É mais do que isso
Pode ser mais
Ou menos
Uma coisa é clara:
Isso é ponto pacífico.
Eu não sei o que poderia ter
Pode ser,
É nessa direção
A gente não sabe tudo
Isso por um lado
Não tem jeito...

engasgo



Já posso sentir na pele a contradição
-clara e precisa
que agora gela meu hálito.
Com as unhas feitas eu erro menos,
arranho pouco,
saio de fininho
e tropeço sempre na mesma colina.

Caio eu,
caio você,
cai-se tudo.

Flui-se pouco e assim,
engasgo.

ainda?

Por que falar
- Ainda?

Quando digo
-pouco
Vomito em silêncio

Quando grito
-talvez
Me contorço em corda fina

Quando penso
-agora
O soluço vem em dobro

Quando eu escrevo
-mulher
Agora fujo e pego fogo.