quinta-feira, 15 de julho de 2010

da plenitude de existir-se vivo.

Saiu de casa com o singular desejo de que fosse, de fato, a última vez. O mais grave respirar perplexo e apaixonado pela própria dor. A última tentativa de entender toda desordem e caos que, por ora, o contemplava subitamente.
E foi assim que a extravagante vontade de resumir-se a nada o levou para fora da própria vida e o conduziu por certa noite fria. O vazio já se tornara completo em-si e para-si. Embebido nesse mar de lamentação, frente ao desafio que era zerar-se, o rapaz tentou dar sossego aos pés pretendendo assim, dar voz ao sentimento raro que foi mencionado e sentido depois de todos os outros: a indubitável sensação de existir-se vivo
Por alguns minutos, diante dessa grande vertigem que se passava, permaneceu-se fixo. Estacou-se no súbito momento de confusão e certeza que agora o mantinha em pé. Por não se reconhecer, tentou impedir a continuação do movimento, o progresso de finalmente se sentir parte de algo – ainda que esse algo nada tivesse de familiar.
A humilhação de não se reconhecer vivo o assustou. O embaraço tomou conta de todo o seu corpo e pulsava junto às veias, tentando levar para cada parte do seu “eu”, a grande novidade. Sentir-se vivo, de fato, era novidade. Ainda que tenha sido por poucos minutos, a alteração inesperada no andamento regular e tenebroso da sua vida se tornou um momento raro. Raridade essa que se reduzia aos poucos a momentos de lembrança. Lembrança que teve muito mérito, pois logo o efeito de viver havia passado.
Algumas resistentes lágrimas escorreram pelas linhas do rosto que há pouco era somente riso, mas que agora se resumia novamente em fragilidade. Manteve-se oco, como garrafa vazia cujo conteúdo havia sido retirado. Manteve-se seco e deixou que evaporasse a umidade do que há pouco era um mar de vida.
E sem mais, continuou vivendo. Sabendo que ao menos uma vez na vida, existiu-se genuinamente vivo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

inquietude ambivalente


Listen to me, don't walk that street
There's always an end to it
Come and be free, you know who I am
We're just living people
We won't have a thing
So we'd got nothing to lose
We can all be free
Maybe not with words
Maybe not with a look
But with your mind

maybe not- cat power


Ando muito apressada e avoada. Não culpo os compromissos, muito menos a faculdade. Culpo-me por não me olhar e não me ouvir. Culpo-me por deixar que algo ofusque minhas vontades e as enterre num lugar tão fundo que quase já não me conheço. Algo esse que me tira o sono e é motivo de todos aqueles já conhecidos cigarros (não mais mentolados) que não são mais surpresa para o meu cansaço. Algo esse que atrapalha todas as minhas relações e que me afasta dos que mais amo e acaba por me conduzir ao obscuro, aos intervalos de solidão e aos pequenos e raros momentos de surpresa, de simplicidade das felicidades instantâneas que escorrem por tudo que já toquei - mas que agora não sei mais se sou. Algo que se traduz em culpa, descaso e solidão. Que me esfaqueia em tantos momentos e em tantos olhares mas que, por ora,faz-me ir ao encontro da imensidão de toda essa inquietude que se traduz nessa ambivalência - já não mais desconhecidade- dentro de mim.