terça-feira, 31 de maio de 2011

notas do amanhã.

Esquecer só é natural quando se quer. Não somos sinceros pois temos medo e tomamos decisões precipitadas com a promessa final de vida plena, de caminhadas lindas, do velho e conhecido “novo”.
É tudo mentira. Nossa caminhada não deve ser feita a partir de decisões baseadas na desculpa de vida grande. É do hoje e do ontem que somos feitos. O amanhã nunca se sabe; é promessa oca, garrafa vazia quebrada e cortante; saliva que pinga, mas não umedece a mesa, é aquele soluço da abstinência que vai sempre te acordar.
Isso é tão óbvio que me causa náusea e por isso vomito minha indignação frente a esses olhos de vidro cansados de brincar de luneta. O amanhã é hoje. É o cigarro de hoje que me faz ter certeza de que o ontem aconteceu e, logo, eu não estava louca.
Por culpa dessa esperança imbecil no amanhã é que nos podamos e mentimos, matamo-nos com a consciência tranqüila e tropeçamos nos fantasmas daqueles que esfaqueamos para que não nos atrapalhassem enquanto nos vestíamos com vaidade para o encontro com o amanhã, com o tal futuro brilhante, repleto de gozo e orgulho.
Grito agora para que as paredes também ouçam, para que aquela xícara de chá se quebre e queime a mão sádica que depois te alimenta. E te provo, água maldita:

Se o fantasma volta nesse teu irônico amanhã, é porque ele não se foi.
Se não foi, não morreu.
Se não morreu, você não o matou.
E se não o matou, é porque ainda o quer vivo.

Por hoje é só.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ausência



Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta..
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)

terça-feira, 3 de maio de 2011

It's damned if you don't and it's damned if you do

Enterrando meus pedaços no mundo, arrasto a pele no asfalto e pareço não me cansar. Algum dia alguém disse que seria assim e, por ora, aceito.
Repito, vomito, grito e gozo: o que me causa insônia é o que me mantém viva. Não posso mais incendiar o sono alheio, não posso mais acordar doendo, não posso...apenas não posso. Troquem minha pílula da descrença,asco e incompreensão por algo que seja verdadeiro e coerente, por favor?
Vou contra tudo e todos sabendo que do chão eu não passo. Escrevo tão rápido que as lágrimas não acompanham e caem ao final de cada sentença. Escrevo pequeno. Escrevo em goles porque vomito em papéis ingênuos, pálidos, descrentes e amassados por coisas que nunca imaginei.
Meu soluço às vezes falha e a garganta dói, arranha, sangra dores que nunca desejei comprar. Enquanto isso a faca é enfiada, o cuspe é lançado, o álcool jorrado correndo por cada centímetro do que um dia fora felicidade.
Acabo meus textos com um nó na alma maior que comecei e me questiono...moço, quando isso tudo vai acabar?
E sabe o que mais?

Now hang me up to dry...you wrung me out too too too many times…