terça-feira, 31 de maio de 2011

notas do amanhã.

Esquecer só é natural quando se quer. Não somos sinceros pois temos medo e tomamos decisões precipitadas com a promessa final de vida plena, de caminhadas lindas, do velho e conhecido “novo”.
É tudo mentira. Nossa caminhada não deve ser feita a partir de decisões baseadas na desculpa de vida grande. É do hoje e do ontem que somos feitos. O amanhã nunca se sabe; é promessa oca, garrafa vazia quebrada e cortante; saliva que pinga, mas não umedece a mesa, é aquele soluço da abstinência que vai sempre te acordar.
Isso é tão óbvio que me causa náusea e por isso vomito minha indignação frente a esses olhos de vidro cansados de brincar de luneta. O amanhã é hoje. É o cigarro de hoje que me faz ter certeza de que o ontem aconteceu e, logo, eu não estava louca.
Por culpa dessa esperança imbecil no amanhã é que nos podamos e mentimos, matamo-nos com a consciência tranqüila e tropeçamos nos fantasmas daqueles que esfaqueamos para que não nos atrapalhassem enquanto nos vestíamos com vaidade para o encontro com o amanhã, com o tal futuro brilhante, repleto de gozo e orgulho.
Grito agora para que as paredes também ouçam, para que aquela xícara de chá se quebre e queime a mão sádica que depois te alimenta. E te provo, água maldita:

Se o fantasma volta nesse teu irônico amanhã, é porque ele não se foi.
Se não foi, não morreu.
Se não morreu, você não o matou.
E se não o matou, é porque ainda o quer vivo.

Por hoje é só.

Nenhum comentário: