terça-feira, 18 de dezembro de 2007

espírito natalino.

Está chegando o Natal. Em épocas assim, confesso me assustar diante de umas e outras situações. Quem realmente sabe o que é Natal? Ou quem, de fato, vive o espírito natalino?
Natal virou sinônimo de compra. Compra, compra , compra. Uma festividade para o comércio. Uma desculpa para termos um motivo de presentear. Como se realmente precisássemos de um motivo para dar algo a alguém que gostamos. Os melhores presentes não são os de aniversário, ou de Natal. São aqueles inesperadamente dados numa quarta-feira nublada, por exemplo.
Outro clichê natalino que me tira do sério é a ceia em família. Pode até sem legal reunir numa data os familiares distantes, até mesmo os próximos, e comemorar alguma coisa. Coisa essa que, de fato, ainda não descobriram. Mas o que me aflita mesmo, é o fato de que muitos são obrigados a dividir a mesa, com aqueles mesmos parentes que passaram o ano inteiro demonstrando desprezo aos mesmos. E que não fizeram nada de construtivo o ano inteiro em suas vidas e ainda prejudicaram a sua, caro leitor.
Deixo claro aqui, meu ponto de vista Ateu. Caso alguém acredite do verdadeiro sentido do natal, comemore-o sim, junto de quem gosta. Mas por favor, selecione as pessoas as quais vão dividir esse momento com você. A falsidade de fim de ano é incrível. Portanto pense em quem você vai presentear. Se essa pessoa foi uma boa pessoa à você durante o ano, se o ajudou em momentos aflitos. Se você pode ou não contar com ela. Se você enxerga o bem através de seus olhos e se suas atitudes agem diante da ética.
E para finalizar, dou meu último conselho: não se assuste ao ver que sobrou dinheiro no bolso no natal. A seleção filtra todos aqueles desnecessários em sua vida. A ausência de presenteados, acaba sendo um presente pra você.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ela está armada

Ela está armada!
Olhe para seu sorriso,
Seus lábios corrompidos
Sua calma, seu tremor,
Ingênua Afrodite,
Só tem olhos para seu amor.

Ela está armada!
Carrega consigo um fascínio,
Uma atração natural,
Cuide-se, proteja-se, não tente fugir,
Do seu encanto letal.

Ela está armada!
E sua arma é o coração,
Ela ama, chora, devora
Troca os pés pelas mãos.

Mas antes da fuga,
Aos seus sacrificados pede atenção,
Arde a saliva, solta o grito guardado,
Mas não deixa de dar seu recado:
Respeite-a rapaz, ela está armada.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Um estranho em meu jardim

Revivendo uns textos do passado...

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Um estranho em meu jardim


Noite de sexta-feira 13. O relógio marcava 23 horas. Bom, você deve estar pensando que sou supersticiosa, não é mesmo? E que estou com medo do que poderá acontecer hoje. Está bem, posso até confessar: sou medrosa. Medrosa não, talvez prevenida.A noite escura, fria e calada me assusta. Posso ouvir o som gelado das folhas secas. Sexta-feira 13 é um ótimo dia para acontecer um assassinato, daqueles que nem Agatha Christie, a rainha dos crimes, poderia solucionar!BOOOM! Socorro! Esse estouro veio do jardim! Do meu afável jardim! Meu Deus, o que será? Um ladrão? Um tarado? Um tiro?Ah! Não sei! E isso me apavora! Posso sentir meu coração se contraindo, sinto-o como se fosse uma cabeça de alfinete. Não posso me controlar! A vontade de descer e ver o que é, é grande, mas o medo é ainda maior. É hora de tomar coragem. Vou descer. Eu vou ver o que é.Passo trêmula pelo corredor e, rapidamente, escorrego nos braços da escada. De repente... Outro estouro!Meus pés não se moviam, minhas mãos suavam frio. Pensamentos macabros tomavam conta de mim. Mas já que cheguei até aqui, vou continuar.A janela entreaberta fazia com que eu pudesse ver uma sombra no meu jardim. De repente, pude ouvir uma voz. Uma voz fria, pesada, que não me era estranha!Foi quando ouvi pela terceira vez o barulho. Desta vez acompanhado de um "agora eu te matei sua maldita"!Em menos de um segundo senti como se minha pulsação parasse e que todos meus sentidos tivessem me abandonado. Mas agora, mais do que nunca, sentia-me na obrigação de solucionar esse mistério, todo esse suspense. Engoli a saliva áspera de contrações. Deixei o medo de lado e sem pensar duas vezes, abri a porta.Dei de cara com meu vizinho. Surpresa maior eu teria, ao olhar para aquele velho barrigudo com pouco mais de um metro e cinqüenta. Em uma das mãos, uma espingarda. Na outra, uma singela coruja. Já com o sorriso amarelado, foi capaz de olhar pra mim, curvar-se e dizer:- Boa noite, vizinho. Agora sim poderei dormir em silêncio.

ah, eu odeio.

Eu odeio todo mundo.
O cara que ta todo dia com um fone mais alto que o meu no ponto de ônibus.
A menina que eu sei que fala de mim quando eu saio.
Aquela que não espera eu sair pra falar.
O porteiro que me olha diferente.
O professor com o olhar ausente.
A tia que só fala mal.
A família que não vê o sucesso.
Eu odeio meu protesto.
Eu odeio esperar.
E odeio usar isso como desculpa.
Desculpa da minha agonia, da minha tristeza.
Da comilança ou da choradeira.
Eu odeio me enganar.
Eu odeio me enxergar.
Oh céus, eu odeio tudo.

Eu sei tudo o que odeio e sei o que me conforta.
Até meu conforto, no momento, eu odeio.
Eu odeio sentir isso e quando isso se mantém.
Eu odeio não poder gritar, não poder sumir.
Eu odeio esperar alguém. Eu odeio não ser ninguém.

Odeio não conseguir odiar ninguém.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

César

Metade de mim sustentava-se no balcão. A outra metade eu já nem sentia. Mas que diabos de vida seria essa? Perdi as contas de quantas noites desgracei assim. Os copos foram tantos, que aos poucos formavam uma colina perante a mim. Quase maiores que minha melancolia. Cobriam essa face envergonhada, surrada e inconformada. Te busquei em todo e qualquer engradado alcoólico dessa cidade. Tentei te avistar em cada fundo de garrafa, em cada cigarro aceso, em cada esquina molhada. Aos poucos, cansei de fugir. Cômodo demais para um homem de 38 anos, divorciado e mal sucedido, buscar as respostas em um boteco encardido. Por que não aceitar a perda? Por que não tentar te substituir? Por que ainda questionar, se das respostas não quero estar ciente? Fostes o único a quem busquei socorro em todos os momentos. Aquele que parecia me ouvir. Ainda que calado, fingia me entender. E fingiu muito bem, em todos esses anos. Tão bem que te confundi tantas vezes e cheguei a dar-te o nome do meu irmão. Como esqueceria eu, do meu melhor amigo César? Como encarar agora, a dura jornada que agüentaria só? De que forma poderia explicar a todos que tanto pranto, tanta agonia e tanto sofrimento, era efeito da sua morte? Como explicar ainda, que para mim, eras mais que um simples animal de estimação? Meu companheiro, meu amigo, meu eterno confidente. Meu modesto cachorro.

sábado, 27 de outubro de 2007

meu soluço

Eu sou o que eu escrevo, o que canto e o que eu bebo.Sou o desalento, o teu tormento, o teu desprezo. Sou tua ira, tua gana, teu desdém. Eu sou mulher, sou criança e teu neném.
Mas entre copos e cantigas, a velha história embutida. Teu desapego e indiferença não têm lugar na minha crença. A inquietude me acalma e o sossego me hesita. Entre portas e janelas, sou teu mistério e minha pista.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

antagônico

E são inúmeras frases. Ensaiadas, repensadas, unidas por algum motivo. Todas passeiam, perambulam aqui dentro e ao acaso, se chocam. O impacto amortece e anestesia as idéias. Ao se recuperarem, se perdem novamente. Agora, já não mais ensaiadas, tão pouco alinhadas. Misturadas, as frases percorrem um caminho desajustado. As que não se chocam, completam a missão e são passadas a você. As atormentadas - e agora amortecidas - tomam outro rumo. Juntas, escapam do destino. Não chegam em você, como idéia feita. Antagonicamente, as perturbadas se juntam. E juntas, formam uma só lágrima.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

e aí eu penso.

E chega o hoje.Passei o dia inteiro pensando em ontem e antes, antes e antes de ontem.Quando me dei conta, já era amanhã. Pensei novamente. Como já era amanhã, pensei no depois, no depois, no depois de amanhã. E aí quando vi, o hoje passou. Ontem, antes, antes de ontem. Amanhã, depois, depois e depois de amanhã. E como fica o hoje? Não sei, vou pensar...
E quem sabe pensando, eu reviva o ontem. Quem sabe sonhando, eu viva o amanhã. Mas nao devo esquecer de hoje, sonhar. De hoje, viver. E aí eu penso...

domingo, 30 de setembro de 2007

saio para nao perder, e assim, me perco em você.

E é essa vontade de existir que me prende e que liga, amarra, entrelaça os abismos que me acercam nesse âmago de agonia. E mesmo presa a esse martírio me condenso em ti. Ainda que me encontro em prosa ou poesia, grande parte do meu eu, é teu. E eu choro, em oculto, para não falar. E digo, acanhada, para não sofrer. Mas sofro, em excelência, para poder me achar. Até quando ficarei assim? Eu quero dar esse passo e caminhar para a vida. Agarre-me pelas mãos e mostre-me a entrada. A saída é batida, muito conhecida. Além do mais, já cansei de sair. Antes mesmo de entrar, saio para não me perder. E saindo assim, me perco em você.

esse é pra você

Enquanto te machucam
Eu te faço amor
E quando te humilham
Eu tiro essa dor
Mas quando te amedrontam
Tua certeza, eu sou.

Tiram teu orgulho como quem não quer nada
Enquanto isso,
Faço-te promessas na calçada
Acertam teu ego, maltratam você
Nas entrelinhas faço teu corpo tremer
Não olham pra você, não te deixam falar
Mas nos meus ouvidos, faço tua voz despertar

Não reconhecem teus olhos
Não querem teu perdão
Enquanto isso, eu me declaro
Apaixonada, me tens em tuas mãos.

dança

Entre nessa dança
Entre de cabeça ou de coração
Cochichando ou de sopetão
Vá como quiser, mas entre.

Jogue fora, arrebente e esqueça
O abismo entre o mal e a cabeça
Despista esse ponto de vista
E chora, não demora, mas, por favor,
Entre agora!

Não olhe pro lado, não olhe pro canto
Não te desespera, não cante teu pranto
Não chore de dor, talvez por amor
Não faça tua cama, nem mesmo reclama
Não te subestime, e no mínimo, estime

E cante, espante, vá adiante
Crie e recrie, seja a criança
Aumente a bagunça, trace a lembrança
Mas não se esqueça
De entrar nessa dança.

mata a sede e tira o sono.

De onde vem tanta beleza?
Tamanha e gigantesca,
Enche o prato, põe a mesa.
Mata a sede e tira o sono
Engrandece corpo e alma
Mas, nem de longe, me acalma.

fez-se o riso

E assim fez-se meu riso.
Banhado pelas lágrimas singelas,
Destemido e inocente.
E assim fez-se meu riso.
O coração disparado, o amor renovado
Coisas que só a gente sente.

tanta vontade

E são tantos planos
Que me faço insegura
E é tanto amor
Que me consumo em medo
E é tanta alegria
Que me desmorono em lágrimas
E é tanta vontade
Que me encontro só.

domingo, 26 de agosto de 2007

Utopia

Particularmente, a maior das minhas paixões.
Antes crer num sonho utópico, a aceitar uma verdade infértil.
É desacreditando na verdade que busco forças para alcançar meus sonhos.
Realidade e sonho. Paradoxo afável.
Verdades e mentiras.
Utopia, utopia.

Ah, utopia...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

sem título²

As fotos na parede não me deixam mentir. Busco você em todas as partes. As fotografias me olham, parecem zombar de mim... Dessa minha necessidade de estar ao seu lado. Ao deitar-me, pensamentos suaves com um toque de perversidade extraem meu sono, dominam meu ser. A esperança de sonhar contigo, faz o sorriso não sair do rosto até as pálpebras se tocarem. Num ímpeto incontestável abandono a cama e dou início a mais um caminho habitualmente trilhado e sabido. Olho pra todos os lados. Busco o nascer do sol ou quem sabe o instante final do espetáculo lunar. Procuro-te em cada pingo de chuva, em cada melodia do vento. Milhares de rostos passam por mim, e nenhum deles é capaz de remediar essa necessidade de você. Eu ando olho, procuro desejo ardentemente te encontrar em qualquer esquina, em qualquer destino. Nas páginas exaustas dos romances que leio, teu nome aparece nas entrelinhas. O jeans surrado exalando o espírito da juventude busca o contato que tanto já tive. Aquele, em que me abraças e por alguns segundos o mundo desaparece perante tanta magia. Já não sei se é por mim ou por ti que meu coração pulsa.
Mesmo sabendo que estás em mim, tenho medo de te perder. Quem dirá que do meu peito não poderás fugir? E se alguém domar teu pranto com mais apreço que faço? E se meus olhos um dia não forem o suficiente pra você? E se outros olhos forem capaz de perturbar teus sentidos como dizes que os meus fazem? O receio caminha junto à mim. E a cada passo, a cada manhã, a esperança de que nossos planos saiam dos diários juvenis e das idéias -ainda ingênuas- desabrocham o simples e verdadeiro sorriso que abro quando te vejo. Sem dissimulação, sem disfarce. É esse sorriso que deixa perceber um sentimento oculto, o mais sincero que já tive. E tudo isso, graças a você.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ladainha amorosa

- Oi, eu te amo.
- Oh, que legal!Eu também.
- Você também o quê?
- Eu também me amo.
- Mas não era isso que você tinha que dizer.
- Ora, você quer ouvir o quê?
- Que você me ama.
- Mas eu me amo.
- Que goísta!
- Não é egoísmo. É auto-estima. Li isso naquela revista velha no banheiro lá de casa.
- Você distorceu tudo. Eu só disse que te amo.
- Mas eu também me amo.
- Que droga! Era pra você me amar!Não amar você!
- Agora o egoísta é você.
- Céus! Você está sempre distorcendo as coisas.
- Ah, cansei! Eu me amo! Eu me amo!
- Eu também.
- Também se ama?
- Não. Também te amo.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Desconfiada

Arrumei a cama, troquei os lençóis e vesti o travesseiro com a fronha que vovó deu-me no natal. O aroma agradável perdia-se diante a colcha mais engomada.
Estava tudo limpo demais.

Não havia se quer uma partícula de poeira no quarto já perfumado.As fotos perdidas entre os rabiscos da parede, pareciam sorrir. Até aqueles livros que jamais toquei e que audaciosamente não saiam da prateleira central, pareciam desdobrar-se diante tanto capricho.
Estava tudo nos conformado demais.

Disfarcei-me na camiseta mais nítida.O jeans surrado não poderia mudar, libertino demais da minha parte. Meu espelho jamais encarou um reflexo tão postiço. Os cabelos brilhavam, assim como os olhos. Cobri os pés com a única meia não furada da gaveta.
Estava tudo formoso demais.

Perguntava-me se poderia acreditar no que via. Havia gostado por demais de estar ali, com tanto primor. No fundo, a nuvem negra que sempre pairou sob minha cabeça insistia dizendo ‘ele não vem, ele não vem’. O bendito livro de auto estima vinha-me à cabeça e coerentemente me iludia.
Parecia tudo honesto demais.

A campainha tocou. Desci as escadas num ímpeto imperdoável. Mamãe olhou-me assustada. Papai não desviou o olhar do noticiário. Tremi da cabeça aos pés. Contei até três antes de abrir a porta. Ensaiei tanto esse momento, mas num súbito momento as palavras corriam de mim, como um bicho amedrontado. As mãos, trêmulas e encharcadas, foram em direção à maçaneta. Fechei os olhos e abri a porta. Ao estender os olhos, não encontrei o rapaz alto e forte que tanto paquerei e que tanto me deu esperanças ontem no almoço, ao entregar aquele bilhete. Deparei-me com um homem baixo, bigodudo e ranzinzo. Estava com um bilhete em mãos e me entregou. A fúria guiou-me e pude abri-lo.
“Desculpe-me querida. Senti que do mundo, desconfias demais.”

quarta-feira, 4 de julho de 2007

incógnita

Nunca soube com quais palavras começar um texto. Houve sempre na memória, a idéia, o tema central esperando ser arrancado de lá sob uma força maior. Pensei em escrever algo sobre amor, mas nunca será suficiente.
Diz-se muito do amor, mas pouco se prova. A incapacidade de descrição de algo tão sutil e impalpável, faz com que se torne quase impossível a expressão por meio de palavras de um sentimento assim.
Pensar em você é pensar no amor. Por mais indescritível que seja, são essas as palavras que encontrei para expor minuciosamente cada acelerada que meu coração dá quando te vê. O que dizer então das lágrimas que tanto correm em meu rosto?Pingos de paixão, dor e apego. Gotas de felicidade, pranto ou tormento. Pequeninas porções do que não agüento mais conter somente pra mim. A explicação, causa ou razão desse aperto no peito é motivo de estudo pra muita gente. Há quem diga ser apenas uma reação química. Etil fenil amina, para os entendidos. Outros (os mais entediados, eu diria.) arriscam dizer que não passa de imaginação. Um simples problema psicológico.
Sempre acreditei em que “descrever-se é limitar-se”. Jamais ousaria descrever um sentimento assim, sem limites. Ou melhor, se tivesse audácia suficiente, buscaria uma explicação na própria natureza. A mesma incógnita que está por trás da delicada e primorosa sensação que é dada a nós com um por do sol, que é oferecida através da beleza da lua..e infinitas grandiosidades existentes, é a mesma incógnita que busco para descrever o que sinto.
A conclusão eu já sabia. Termino sem mais nem menos, como em todo texto aleatório que escrevo assim, nos momentos em que não me agüento. Não ousaria dar uma de Camões, ou quem sabe inspirar-me em Vinícius de Moraes. Sou apenas mais um ser nesse mundo, que está vivendo sob condições injustas, tratando-se de sentimentos.
Encontras aqui, tormentos e palavras que se citam para tentar provar alguma coisa, que jamais será lida. Não serei uma grande escritora e muito menos cobiço esse ideal. Desde que minhas palavras penetrem no seu coração e se perca por lá, estarei satisfeita.
Falar de amor é falar daquilo que é desconhecido e que se procura saber. Falar de amor é falar de você.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Eu te procuro.

Olhos sonâmbulos, olheiras visíveis, carimbo de lágrima.
Rosto marcado, pele surrada, fronteira da dor.
Ainda assim, eu te procuro.

Perco a saúde, encontro ruínas e resíduos
Embriagado de dó, pena e compaixão
Acendo um cigarro, peço-lhe atenção
Mas ainda assim, eu te procuro.

Móveis empoeirados, sonhos apagados, pensamentos opacos
Nada me impede, nada me livra
Não me liberta, não alivia
Em meio a neblina, eu te procuro

Escuto um clamor, um pedido, um socorro
Uma exclamação forte e sonora que exprime essa dor
A voz vem de dentro, mas é confusa
Já não sei mais quem sou
Mas ainda assim, eu te procuro.

Entro e saio do pânico, como quem busca defesa
Indago por uma gaveta, um local, um recinto
A faca que se destaca, brilha feito brinco de princesa
Transpassa lado a lado, faz o sangue correr e o peito doer
Enigmas e aborrecimentos que eu já nem sinto
Vou para o céu , para o inferno ou pro além
Estou onde estou, mas ainda assim
Eu te procuro.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

vertigem

Uma adolescente que não sente-se como tal.Ela percebe somente o seu próprio espaço real (ou imaginário) , não ocupado por coisa alguma.Procura entender a realidade, o desenrolar dessa vida tão superficial que tende ao infinito.Infinito este, que está prestes a acabar, caso ela não tire o véu de desconfiança que a cega.
Não confia em ninguém, nem mesmo na imagem túrgida de perversidade que o espelho do banheiro reflete. Essa menina só causa desgostos aos pais.É olhada de cima a baixo e acaba sempre sendo julgada pela face ranzinza que por nada, nem ninguém, se desfaz.Os fantasmas de seus medos a cercam a todo momento.Ela ouve a voz da própria consciência.Vive de contradições.Sente-se vazia e repleta de temores.Diz-se muda, mas a voz do seu íntimo insiste em chorar alto e forte.Grita por socorro, pede ajuda mesmo que a recuse.Seus heróis estampados no quarto, parecem não ser mais tão valentes assim e perdem seu valor para as poesias, contos escondidos nas entrelinhas dos rabiscos na parede.Ela cria e descria personagens na tentativa de encontrar-se diante sua vertigem.
Vive assim, de loucuras momentâneas e tentações súbitas.O grito agonizante é amortecido pelo soluço das tão salgadas lágimas.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

sem título¹

Os pingos de água parecem cair mais fortes naquela terça-feira cinzenta.Ela caminha apressada pela calçada.O sapato , já encharcado, parece não acompanhar os seus passos.Olha no relógio embaciado de pulso e subitamente vê que está atrasada.Já são dez horas.Nove e meia ele estaria lá.
“Café Bom Gosto” registra a placa já exausta de tantos outonos.Fecha o guarda chuva, entra e procura pelo moço de barba.Ele demora ainda meia hora para chegar.
Suspirando seus tormentos, ele escolhe a mesa mais escondida para se acomodar.Os dois se olham e a conversa começa.Ele pede café.Ela, o mesmo de sempre: o bom e velho chá.
Ela espera ouvir da boca dele a tão esperada notícia. Ele, que sempre foi de falar nas entrelinhas, parece não ter a novidade.Ela o pega pelas mãos e jura amor eterno.Ele pede para a moça conter-se, afinal, estão em local público.Tristonha, ela finge entender.
Ele a beija as mãos e afirma que no próximo encontro, já terá resolvido o problema.Ela finge acreditar.
Ele faz suas juras utópicas e ela se delicia em suas palavras.Diz ter que voltar para a casa, para poder tirar o perfume dela de sua roupa. Pede a conta, e diz estar atrasado pra pegar a filha na escola.Ela, com os olhos semi lacrimejados pede , mais uma vez, que ele resolva a situação.Ele a toma pelos braços e promete, que dessa vez, tudo dará certo.Ela sorri, e finge acreditar.Ambos saem do café.Ele para um lado, ela para outro.Ele, para esposa.Ela, no papel de amante.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

impertinência

Impertinência
s. f. 1. Caráter de impertinente. 2. Ato, modos ou dito de pessoa impertinente.

Nunca parei pra pensar, mas agora percebo que viver é realmente um ato arrojado e (muito) difícil. Sustentar-se de audácias, viver uma vida destemida, valente e friamente corajosa faz com que com que a impertinência torne-se uma das principais propriedades humanas.A questão que mais me aflige é: até que ponto uma pessoa pode ser considerada impertinente?
O desconforto faz parte do nosso cotidiano, e nem por isso devemos aceitá-lo com o bom “humor natural” esperado das pessoas.Um pouco de chatice faz bem às vezes.O problema é que nosso lado rabugento é mal encarado pelas pessoas, que nos fazem muitas vezes fingir um estado de espírito em que não nos encontramos.Creio que o individualismo é necessário e dentro desse nosso suposto mundinho existe toda uma necessidade de sermos “chatos”.Devidamente entre aspas, coloco a palavra chato.Importunamente associamos a ausência de alegria a palavra chato.O que, para muitos, é uma tremenda indelicadeza.Necessitamos do nosso próprio tempo, longe de tudo e todos.E nem que para isso, precisamos nos “fechar” e calar-se.Centrar nosso momento para nós mesmos, para um período de auto-conhecimento. Temos claramente a necessidade de fugir às vezes. E como fisicamente, nem sempre é possível, procuramos nos ausentar espiritualmente. O fato de passarmos alguns dias em silêncio, num ritmo não tão acelerado quanto ao dos outros, não nos faz de inconvenientes.Muito menos nos torna impertinentes.

Um pouco de isolamento faz bem.

domingo, 20 de maio de 2007

(mal) posso esperar

Certas coisas já são predestinadas à nós.Acredito que o ato de esperar é uma delas.Desde sempre esperamos.Foram árduos nove meses de espera para ver as cores do mundo.Alguns meses para aprendermos a andar sob nossas próprias condições.Esperamos pela primeira fala e mais ainda pela primeira frase completa.Mal obtemos um dente e já esperamos que caia para nascer outro.Na infância, a espera é um tanto quanto cômoda.
Somos crianças e esperamos a adolescência. Crescemos e os atributos mudaram, mas o ato mantém-se firme e forte.Queremos independência.Buscamos razões e motivos.Esperamos ser tudo o que sonhamos.
A independência finalmente chega.E a fila no banco também.O semáforo, a fast food (que de “fast” só o nome).Aquela ligação importantíssima.A chuva passar, a semana acabar e domingo chegar.
Entre tantas outras esperas, espero por algo mais simples.Espero por você.Espero esse alguém disposto à esperar comigo.Alguém disposto à esperar por mim.

quinta-feira, 22 de março de 2007

O gelo de outono..

E lá se vai mais um dia de Outono.Curioso perceber que no dia de hoje a ausência de calor foi mais explicita que em muitos dias de inverno. Não no sentido literal da palavra, mas foi aquele gelo interior, que adentrava corpo e alma. O dia hoje pareceu-me tão cinza, as pessoas tão desanimadas e longe da vida real...e eu observei aquilo numa tranqüilidade que me assustou.Como se essa solidão, monotonia e insegurança fizessem parte do cotidiano.
Faz tempo que não vejo aqueles dias coloridos, sorridentes...em que o brilho do sol é só mais um detalhe que contempla a magnífica paisagem..Está faltando cor nisso tudo.E o pior é que ninguém aparenta sentir falta, muito menos age para que tudo se amenize.
O meu medo, é que depois do outono... Vem o inverno.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Tudo tem um começo..

Estou aprendendo a arte de escrever. Ainda tenho a vergonha de estar aqui e essas letrinhas ainda me amedrontam, como se a qualquer momento um erro mortal de português me impedisse de continuar a expor pensamentos. Eu ainda não sei por que estou com esse costume de escrever todo dia. Antes era um planejamento distante só....eu achava legal ler textos de pessoas que para mim, eram exemplos. Me questionava se um dia eu iria me juntar a esse grupo. Acho que estou quase lá. É legal escrever porque ninguém ta me julgando, e eu nem sei se alguém um dia vai ler isso. Penso que quando eu morrer, ninguém vai ter a curiosidade de bisbilhotar meu computador e achar esses textos perdidos e a maioria , sem título.
O título é o de menos, o pior é quando o texto não se tem o verdadeiro sentido. Como por exemplo, esse. Não sei se as letras reunidas aqui são efeito do meu chato e tedioso dia, ou se é um refúgio para aquele amor mal amado.
Aqui, escrevendo, a minha consciência não pesa tanto, porque mesmo que eu não esteja fazendo os deliciosos 120 exercícios diários (que me falaram ser necessários para que eu passe no vestibular), eu estou fazendo algo aparentemente útil. Nada de bate-papo ou televisão. Eu estou escrevendo. E aí eu penso :Serão esses 120 exercícios que me farão ser alguém na vida , ou a minha capacidade de expor idéias, sentimentos ou conceitos que consolidarão na minha suposta personalidade de vida? É pensando por esse lado esses 120 exercícios não são tão importantes assim... (Esqueci de citar, mas assim como título, os textos nunca têm um fim concreto).