quinta-feira, 19 de julho de 2007

Desconfiada

Arrumei a cama, troquei os lençóis e vesti o travesseiro com a fronha que vovó deu-me no natal. O aroma agradável perdia-se diante a colcha mais engomada.
Estava tudo limpo demais.

Não havia se quer uma partícula de poeira no quarto já perfumado.As fotos perdidas entre os rabiscos da parede, pareciam sorrir. Até aqueles livros que jamais toquei e que audaciosamente não saiam da prateleira central, pareciam desdobrar-se diante tanto capricho.
Estava tudo nos conformado demais.

Disfarcei-me na camiseta mais nítida.O jeans surrado não poderia mudar, libertino demais da minha parte. Meu espelho jamais encarou um reflexo tão postiço. Os cabelos brilhavam, assim como os olhos. Cobri os pés com a única meia não furada da gaveta.
Estava tudo formoso demais.

Perguntava-me se poderia acreditar no que via. Havia gostado por demais de estar ali, com tanto primor. No fundo, a nuvem negra que sempre pairou sob minha cabeça insistia dizendo ‘ele não vem, ele não vem’. O bendito livro de auto estima vinha-me à cabeça e coerentemente me iludia.
Parecia tudo honesto demais.

A campainha tocou. Desci as escadas num ímpeto imperdoável. Mamãe olhou-me assustada. Papai não desviou o olhar do noticiário. Tremi da cabeça aos pés. Contei até três antes de abrir a porta. Ensaiei tanto esse momento, mas num súbito momento as palavras corriam de mim, como um bicho amedrontado. As mãos, trêmulas e encharcadas, foram em direção à maçaneta. Fechei os olhos e abri a porta. Ao estender os olhos, não encontrei o rapaz alto e forte que tanto paquerei e que tanto me deu esperanças ontem no almoço, ao entregar aquele bilhete. Deparei-me com um homem baixo, bigodudo e ranzinzo. Estava com um bilhete em mãos e me entregou. A fúria guiou-me e pude abri-lo.
“Desculpe-me querida. Senti que do mundo, desconfias demais.”

Um comentário:

Luuuu... disse...

liiiinda.....
demais!
mas, sei q não vai acreditar em mim...
vc é desconfiada demais...
amo-te...