quarta-feira, 6 de junho de 2007

sem título¹

Os pingos de água parecem cair mais fortes naquela terça-feira cinzenta.Ela caminha apressada pela calçada.O sapato , já encharcado, parece não acompanhar os seus passos.Olha no relógio embaciado de pulso e subitamente vê que está atrasada.Já são dez horas.Nove e meia ele estaria lá.
“Café Bom Gosto” registra a placa já exausta de tantos outonos.Fecha o guarda chuva, entra e procura pelo moço de barba.Ele demora ainda meia hora para chegar.
Suspirando seus tormentos, ele escolhe a mesa mais escondida para se acomodar.Os dois se olham e a conversa começa.Ele pede café.Ela, o mesmo de sempre: o bom e velho chá.
Ela espera ouvir da boca dele a tão esperada notícia. Ele, que sempre foi de falar nas entrelinhas, parece não ter a novidade.Ela o pega pelas mãos e jura amor eterno.Ele pede para a moça conter-se, afinal, estão em local público.Tristonha, ela finge entender.
Ele a beija as mãos e afirma que no próximo encontro, já terá resolvido o problema.Ela finge acreditar.
Ele faz suas juras utópicas e ela se delicia em suas palavras.Diz ter que voltar para a casa, para poder tirar o perfume dela de sua roupa. Pede a conta, e diz estar atrasado pra pegar a filha na escola.Ela, com os olhos semi lacrimejados pede , mais uma vez, que ele resolva a situação.Ele a toma pelos braços e promete, que dessa vez, tudo dará certo.Ela sorri, e finge acreditar.Ambos saem do café.Ele para um lado, ela para outro.Ele, para esposa.Ela, no papel de amante.

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