domingo, 28 de setembro de 2008
portrait
A lua sobe, se esconde, o sol aparece e as coisas não se transformam. Por volta das cinco, cinco e meia da tarde senta, olha o cardápio e o pedido não muda: “um café com leite, com mais leite, por favor,”. Espera ali sentada. Não sabe se lê, não sabe se liga para alguém a fazer companhia. Desiste de ligar, pois está cansada. Só ela liga, só ela busca, só ela cria. O café chega. A vontade é tanta que queima os lábios. Já não os sente mesmo, não faria diferença tostar mais um pouco. Ela pensa. Só pensa. Mil e uma coisas, informações que caminham numa velocidade inalcançável para sua cabeça. As palavras vêem, voltam, umas formam frases, outras não completam a idéia. Frases, idéias, momentos desejados, momentos passados, momentos presentes...De tudo aparece ali e não há nada que ela possa fazer. Toma o café pouco a pouco na esperança de alguém entrar ali, sorrir e juntar-se àquele momento. Ninguém vem. Ela nem sabe por quem esperar. Esperou tanto, decepcionou-se tanto que já não sabe distinguir presente de passado, realidade de sonho, utopia de desejo. O café está pela metade e moça reza para que uma ventania apareça para conduzi-la a algum outro lugar. Pensa em levantar-se, entretanto a idéia logo passa. Levantar-se para quê? Para quem? Para onde? Chega de perguntas! – Mais um café com leite, com mais leite, por favor.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Tarja preta
Oco. Vazio. Insignificante. Como descrever algo se já não sinto mais nada? Decifrar um estado de vácuo existencial foi algo que sempre tentei fazer. Entrava e saía de uma depressão como quem cai num buraco e já desconhece motivos para levantar-se. Por um momento aceitei as opiniões alheias e fui ao médico. O desgraçado do psiquiatra cismou em me entupir com anti depressivos. Saí do consultório num ímpeto incontestável buscando remédio para a ferida. Minha salvação foi que a farmácia mais próxima estava fechada. Em frente, havia uma livraria. Confesso que até hoje não sei o que me fez entrar, e agradeço aos céus por me mostrar o oásis que me salvou.
A perda do meu pai, a ausência de um amor...tudo isso contribuiu para meu estado depressivo. Achei que nunca mais voltaria a sorrir. Até me entregar às palavras. Não fossem as palavras de Marcelo Rubens Paiva, nunca poderia ter sentido o êxtase que tive ao ler Feliz ano velho. É indiscutível como as letras, as frases uma a uma penetravam em mim e como um orgasmo arrebatador, me faziam querer sempre mais. O mundo de Sofia, O vendedor de sonhos, O caçador de pipas, até mesmo as obras da Rainha dos crimes me trouxeram um doce desejo à vida. A morte no Nilo,Cai o pano... Livros que me fizeram ter o dom da percepção ensinado por Agatha Chrisite.
Aos poucos, criei coragem e comecei a produzir uns rabiscos. Se na vida real eu tinha medo de pontos finais, aprendi que uma vírgula pode fazer milagres. A vírgula, aquela pausa necessária para buscar fôlego para ir à frente, me ensinou a respirar. Aprendi que às vezes o bom mesmo é fazer uso das reticências, aquele fim que não acaba, aquela omissão do que poderia ou deveria ser dito. Ah! As palavras! Entram e saem de mim com uma audácia juvenil. Alojam-se em meu peito e mudam meu dia, meu ser. Fiz delas minha própria terapia.
A vida me ensinou que escrever é sempre uma saída. Para uns, é como dirigir na contra mão, com obstáculos a todo o momento e buracos na pista. Para mim, é ligar o piloto automático e deixar-me conduzir somente pelo encanto e o verdadeiro sentido cognitivo das palavras. No lugar de Fluoxetina, Prozaac ou qualquer outra química causadora de uma falsa alegria, um papel, caneta e algumas palavras. As minhas palavras. Meu remédio tarja preta. Minha dose diária cuja única precaução escrita no meu imaginário é: “Cuidado. Esse medicamento é contra indicado para aqueles cujo verdadeiro sentido da vida ainda não fora descoberto”.
A perda do meu pai, a ausência de um amor...tudo isso contribuiu para meu estado depressivo. Achei que nunca mais voltaria a sorrir. Até me entregar às palavras. Não fossem as palavras de Marcelo Rubens Paiva, nunca poderia ter sentido o êxtase que tive ao ler Feliz ano velho. É indiscutível como as letras, as frases uma a uma penetravam em mim e como um orgasmo arrebatador, me faziam querer sempre mais. O mundo de Sofia, O vendedor de sonhos, O caçador de pipas, até mesmo as obras da Rainha dos crimes me trouxeram um doce desejo à vida. A morte no Nilo,Cai o pano... Livros que me fizeram ter o dom da percepção ensinado por Agatha Chrisite.
Aos poucos, criei coragem e comecei a produzir uns rabiscos. Se na vida real eu tinha medo de pontos finais, aprendi que uma vírgula pode fazer milagres. A vírgula, aquela pausa necessária para buscar fôlego para ir à frente, me ensinou a respirar. Aprendi que às vezes o bom mesmo é fazer uso das reticências, aquele fim que não acaba, aquela omissão do que poderia ou deveria ser dito. Ah! As palavras! Entram e saem de mim com uma audácia juvenil. Alojam-se em meu peito e mudam meu dia, meu ser. Fiz delas minha própria terapia.
A vida me ensinou que escrever é sempre uma saída. Para uns, é como dirigir na contra mão, com obstáculos a todo o momento e buracos na pista. Para mim, é ligar o piloto automático e deixar-me conduzir somente pelo encanto e o verdadeiro sentido cognitivo das palavras. No lugar de Fluoxetina, Prozaac ou qualquer outra química causadora de uma falsa alegria, um papel, caneta e algumas palavras. As minhas palavras. Meu remédio tarja preta. Minha dose diária cuja única precaução escrita no meu imaginário é: “Cuidado. Esse medicamento é contra indicado para aqueles cujo verdadeiro sentido da vida ainda não fora descoberto”.
sábado, 6 de setembro de 2008
sem título por enquanto.
Cena um.
Bar vazio. Cinco pessoas apenas sentadas. Uma televisão ligada. A moça do balcão discute com o rapaz que lava os copos. Na mesa enfrente à sinuca, um homem fumando. Parece compulsivo, apaga um cigarro, acende outro. Não deixa um intervalo se quer para seu pulmão reclamar. Na mesa redonda para quatro pessoas próxima ao balcão, um casal. Pouca conversa, alguns olhares. Não há diálogo. Ela contorna o copo de cerveja com os dedos, tentando fazer algum barulho, como se fosse uma taça de vinho. Ele prestando atenção no celular que está ali, mas não toca em momento algum. No balcão, duas mulheres. Pouca idade, no máximo uns vinte e cinco anos na cara e mais uns trinta entre as pernas. Elas também não conversam. Não houve um cliente se quer naquela noite, só restou a elas o balcão. Bebem do copo uma da outra. A cerveja vai acabar, pois a conta já é grande. Decidem ir embora e voltar à casa vermelha
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
alegria
Deixa o poeta cantar e cair, borbulhar-se de amor.
Sinta o seu fogo, seu cheiro, a dádiva imensa de ser vencedor.
Ouça a batida da ponta da faca e a ferida que insiste em coçar.
Fala pra ele que um sonho é pouco, devemos é nos atirar.
Tira a cabeça do saco e atola o teu pé, deixa a lama molhar.
Limpa com mel a ferida, adoça tua vida que o poeta já vem.
Veste tua cara com véu de alegria e pra ele não faça desdém.
Sinta o seu fogo, seu cheiro, a dádiva imensa de ser vencedor.
Ouça a batida da ponta da faca e a ferida que insiste em coçar.
Fala pra ele que um sonho é pouco, devemos é nos atirar.
Tira a cabeça do saco e atola o teu pé, deixa a lama molhar.
Limpa com mel a ferida, adoça tua vida que o poeta já vem.
Veste tua cara com véu de alegria e pra ele não faça desdém.
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